Entenda como a liderança baseada em conversas autênticas e construtivas pode transformar o feedback em uma ferramenta de desenvolvimento e engajamento
Quando se trata de analisar a performance do time e dar feedback, estas são algumas das questões que atormentam muitos líderes:
Como oferecer um feedback realmente eficiente de maneira autêntica e objetiva?
O que levar em conta na avaliação de desempenho para promover mudanças e impactos significativos?
Como lidar com avaliações difíceis de forma construtiva, sem prejudicar o engajamento e a motivação dos profissionais?
Na visão de Alessandra Cavalcante e Rachel Goldgrob, cofundadoras da GoHuman, o caminho para responder a essas e a outras questões passa por repensar o modelo de liderança.
Isso porque uma das razões pelas quais momentos de troca entre líderes e liderados representam desconforto e ansiedade é o fato de serem vistos apenas como uma obrigação a ser cumprida – geralmente com data marcada, uma ou duas vezes por ano.
Essa percepção negativa tem raízes no modelo de liderança “comando e controle”, em que o líder centraliza todas as decisões e espera-se que os subordinados sigam ordens sem questionar.
Para superar esse estilo autoritário e inflexível, e tornar as relações entre gestores e liderados mais efetivas e construtivas, é importante humanizar a liderança, tornando as conversas autênticas um de seus principais pilares.
O que significa liderar por meio de conversas autênticas?
Quando as conversas autênticas estão na base da liderança, há trocas constantes de visões, conhecimentos e aprendizado. Com isso, o desenvolvimento contínuo (do time e do líder) é estimulado e incentivado não apenas uma vez por ano, mas diariamente.
Segundo Alessandra e Rachel, a liderança focada na troca é composta por quatro elementos que refletem os atributos essenciais da conversa interpessoal:
Intimidade: Líderes transmitem a estratégia; insights emergem de diálogos com toda a organização.
Interatividade: Líderes usam os canais de comunicação e a cultura organizacional para promover interações.
Inclusão: Líderes envolvem liderados ao contar a história da empresa, formando embaixadores da marca.
Intencionalidade: Líderes valorizam a confiança, a autenticidade e a forma como se relacionam com as equipes.
Como promover conversas construtivas em processos de feedback?
Ao contrário do que muitos líderes acreditam, os profissionais querem receber feedback significativo e sincero – mesmo em situações desconfortáveis.
Um levantamento da Universidade de Harvard indica que apesar de 72% dos colaboradores considerarem crucial para o seu desenvolvimento profissional ouvir críticas construtivas dos gestores, somente 5% percebem que recebem esse tipo de orientação.
Em um estudo feito pela Gallup, 80% dos participantes que disseram ter recebido feedback significativo se sentem totalmente engajados. Contudo, apenas 16% avaliaram a última conversa que tiveram com seu líder como significativa.
Mas como oferecer um feedback realmente construtivo?
Promover conversas reais e autênticas é fundamental para atender os anseios dos colaboradores por orientações significativas que contribuam para o desenvolvimento profissional.
De acordo com a Gallup, as características mais comuns de conversas significativas são (em ordem de importância):
Reconhecimento ou apreciação por trabalhos recentes.
Colaboração e relacionamento.
Foco em metas e prioridades atuais.
Duração entre 15 e 30 minutos – se esses encontros forem recorrentes, esse tempo é suficiente para uma conversa significativa.
Ressaltar pontos fortes, ou que as pessoas fazem melhor.
Além disso, Alessandra e Rachel destacam que, a forma como a comunicação acontece é o que de fato possibilita conversas reais e autênticas. Neste sentido, elas citam a importância da comunicação assertiva:
“A comunicação assertiva é resultado de uma relação madura e honesta, por meio da qual nenhuma das partes se sente inferior ou retraída ao dizer suas reais necessidades, dificuldades, incertezas etc. Essa comunicação está ligada à maneira como opiniões e sentimentos são expostos, não é autoritária, nem busca prejudicar relacionamentos”, explicam.
A importância da inteligência emocional para conversas significativas
Na prática, para oferecer feedback realmente construtivo, é importante levar em conta fatores que vão além do que é explicitamente falado. Afinal, a comunicação não verbal e os diálogos internos também influenciam a maneira como a conversa é percebida.
Considere, por exemplo, os quatro aspectos envolvidos em um feedback:
Diálogo interno da pessoa dando o feedback: crenças sobre o receptor e suas habilidades e/ou caráter e até mesmo a disposição emocional atual do doador.
Comunicação não verbal: a linguagem corporal, o tom e as expressões faciais entre o doador e o receptor.
Comunicação verbal: o que doador e receptor efetivamente falam durante o processo de feedback.
Diálogo interno do receptor: crenças sobre si mesmo, sobre quem dá o feedback, sobre o feedback e sobre a situação.
A falta de alinhamento entre esses fatores resulta em conversas difíceis e situações desconfortáveis. Ao considerar e equilibrar esses quatro elementos, os líderes podem criar uma dinâmica de feedback mais eficaz e autêntica, que promova um ambiente de aprendizado e crescimento contínuos.
A comunicação não verbal nesse processo merece uma análise mais atenta
Para isso, usaremos como exemplo um experimento em que os participantes foram convidados a avaliar vídeos em que pessoas liam textos com diferentes tonalidades, variando de amigáveis a hostis.
Durante a leitura, essas pessoas apresentavam comportamentos não verbais que podiam ser congruentes, neutros ou não congruentes com o texto lido. Os avaliadores deram muito mais valor aos gestos e às expressões não verbais do que às próprias palavras, chegando a valorizar os sinais não verbais até treze vezes mais.
Inclusive, estudos recentes em neurociência apontam que, mesmo quando tentamos não prestar atenção aos gestos, nosso cérebro tende a focar nos sinais não verbais, mostrando uma predisposição natural para eles. “É por conta desse contexto que a inteligência emocional é tão importante para promover conversas construtivas e significativas”, analisam as especialistas.
Os 4 pilares da Inteligência Emocional
As quatro áreas fundamentais da Inteligência Emocional são:
Autoconsciência: capacidade de se conhecer e entender seus sentimentos.
Autorregulação: saber lidar com suas diferentes emoções e reações.
Consciência social: capacidade de fazer a leitura dos outros.
Gestão dos relacionamentos: habilidade de aplicar sua compreensão emocional ao lidar com os outros.
Com base neste quadrante, as cofundadoras da GoHuman recomendam que os líderes baseiem a sua busca por promover conversas significativas neste exercício de autoanálise:
Reconheça:
Como estou me sentindo?
Como a outra pessoa está me afetando?
O que faz eu me sentir como estou me sentindo?
Quais são os gatilhos dessa conversa para mim?
Prepare-se:
Ao final dessa conversa, como quero me sentir?
Como quero que a outra pessoa se sinta?
O que pode abalar meu equilíbrio emocional e o que eu posso fazer sobre isso?
Avalie:
Quem é o outro na conversa?
O momento é adequado?
Como o outro está se sentindo?
Qual é o impacto das minhas emoções e das emoções do outro nos pensamentos e no comportamento de ambos?
Gerencie:
O que eu e a outra pessoa precisamos fazer ao longo da conversa/quais são os acordos necessários para alcançar o resultado desejado?
A relação entre segurança psicológica e as conversas autênticas no feedback
A segurança psicológica é o elemento-chave que permite ao líder e aos membros da equipe expressar suas opiniões, preocupações e ideias sem medo de retaliação, vergonha ou rejeição. Este ambiente de abertura é fundamental para que a troca de feedback ocorra de maneira construtiva e genuína.
Portanto, quando líderes e colaboradores operam em um contexto de segurança psicológica, o feedback não é percebido como uma ameaça, mas como uma oportunidade para o crescimento e aprendizado mútuos.
Isso incentiva a sinceridade e a vulnerabilidade, componentes essenciais para conversas que não apenas visam o desenvolvimento profissional, mas também o fortalecimento das relações interpessoais e a construção de uma cultura de confiança e respeito mútuo.
Ou seja, a segurança psicológica é a base sobre a qual as conversas autênticas e significativas são construídas, permitindo que líderes e equipes naveguem pelos desafios e oportunidades com uma abordagem baseada na confiança, no respeito e na compreensão mútua.
Ao cultivar esse ambiente seguro, as organizações aprimoram a eficácia da comunicação e do desenvolvimento profissional, ao mesmo tempo em que fomentam uma cultura organizacional robusta, caracterizada pela adaptabilidade, colaboração e engajamento.
A GoHuman promove discussões como esta em times executivos e conselhos. Gostaria de conhecer o nosso trabalho? Entre em contato e saiba como podemos ajudar.
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