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Como a cultura do excesso impacta a segurança psicológica nas organizações

Foto do escritor: Redação GoHumanRedação GoHuman

Em ambientes onde multitasking é virtude e ocupação é status, admitir cansaço virou tabu e pedir ajuda é sinal de fraqueza. Como reverter esse cenário?

 

Quando alguém pergunta “Como você ?” ou “Como vai a vida?”, o que você pensa em responder logo de cara? Para muitas pessoas, a resposta padrão tem a ver com o volume de trabalho: “Sem tempo pra nada”, “Muito trabalho” e “Trabalhando bastante” estão entre as preferidas.

 

Esse comportamento evidencia uma valorização da ocupação constante como indicador de importância ou sucesso. 

 

Inclusive, existem relatos de imigrantes nos Estados Unidos que achavam que “busy” (ocupado) significava “bem”, afinal, quando perguntavam a alguém como a pessoa estava, a resposta quase sempre era: “busy”.

 

No Brasil, um estudo do Instituto Locomotiva revela que seis em cada dez brasileiros dizem não ter nenhum momento de ócio ou tempo livre durante a semana.

 

Além disso, uma pesquisa realizada pela International Stress Management Association no Brasil (ISMA-BR) aponta que 62% dos brasileiros sofrem com a falta de tempo devido à sobrecarga e ao excesso de tarefas no dia a dia, sendo essa a principal causa de estresse entre os entrevistados.

 

É nesse contexto de “pobreza de tempo” que a cultura busyness (expressão que combina os termos busy + business) tem se tornado cada vez mais prevalente. Nela, a regra é clara: o importante é estar ocupado o tempo todo (ou ao menos parecer estar).

 

Essa fixação pela produtividade ininterrupta também afeta a gestão de empresas, em que a cultura do excesso – que valoriza o acúmulo de atividades, consumo e produtividade acima de tudo – é comum.

 

Busyness e a cultura do excesso

Como a cultura do excesso impacta a segurança psicológica nas organizações

Segundo Joaquim Santini, pesquisador e consultor especializado em cultura organizacional, liderança e saúde mental no trabalho, a cultura do excesso valoriza a sobrecarga de trabalho, a disponibilidade constante e jornadas extenuantes, promovendo um comportamento de devoção tóxica ao trabalho. 

 

O especialista indica que, em empresas sob essa dinâmica, os colaboradores são bombardeados com metas e expectativas irreais, gerando “o culto à mentalidade do ‘sempre mais’ e o estímulo institucional a ambientes hostis, pensados para acirrar a competição entre colegas de trabalho”.

 

Tanto o busyness quanto a cultura do excesso são reflexo de uma supervalorização do trabalho constante, levando a práticas como sobrecarga de tarefas e reuniões desnecessárias.


Uma análise mais profunda pode revelar, inclusive, que uma coisa alimenta a outra: como as empresas incentivam a ocupação excessiva, as pessoas entendem que estar ocupadas o tempo todo é o caminho para alcançar o sucesso. 


Consequentemente, o excesso de trabalho se torna um símbolo de status, um sinal de sucesso e até mesmo um indicador de bom caráter.

 

Muitas pesquisas comprovam essa associação. Um estudo da Universidade de Columbia, por exemplo, revela que pessoas ocupadas são percebidas como “mais importantes” e “impressionantes”.

 

Além disso, análises do psicólogo Jared Celniker revelam que, em países como Estados Unidos, França e Coreia do Sul, o esforço intenso, mesmo sem resultados relevantes, é considerado moralmente admirável, refletindo uma mudança cultural que valoriza o trabalho árduo acima das realizações.

 

O impacto da cultura do excesso nas organizações e nos indivíduos

 

Contraditoriamente, essa obsessão pela ocupação incessante não necessariamente resulta em melhor desempenho e pode, na verdade, prejudicar a produtividade. Isso porque a ocupação constante está diretamente relacionada ao aumento do estresse – que, por sua vez, impacta negativamente a produtividade.

 

A relação entre o busyness e o declínio do engajamento e dos resultados é clara. Um relatório da Organização Mundial da Saúde (OMS) concluiu que o excesso de trabalho aumenta os riscos de doenças graves, como AVC e problemas cardíacos, além de elevar taxas de absenteísmo. E ainda, colaboradores exaustos apresentam pior desempenho e podem deixar as empresas, o que também as impacta financeiramente.

 

Para as organizações, esse foco excessivo em atividades constantes também é um tiro que pode sair pela culatra. Isso pode ser especialmente desafiador em um contexto de mercado que prega a transformação constante.

 

Nesse sentido, buscando resultados rápidos e superficiais para mostrar que estão acompanhando as movimentações do mercado, muitas empresas optam por “atacar em todas as frentes”, realizando diversos projetos que visam mudanças em diferentes áreas ao mesmo tempo.

 

O resultado é decepcionante, como mostra um levantamento feito pela Bain & Company. Entre as mais de 300 organizações analisadas, apenas 12% dos grandes programas de transformação atingem resultados duradouros.

 

Falta de urgência, falta de liderança e comunicação inadequada são alguns dos motivos para a falha desses projetos.


No entanto, a falta de foco também é uma questão relevante. Os autores da pesquisa destacam que, em qualquer momento, mais de um terço das grandes organizações estão conduzindo algum programa de transformação. Quando questionados, cerca de 50% dos CEOs entrevistados afirmaram que suas empresas realizaram dois ou mais grandes esforços de mudança nos últimos cinco anos, e quase 20% relataram ter conduzido três ou mais.

 

Então, seja em nível individual ou organizacional, a fixação pela ocupação constante e por fazer diversas atividades ao mesmo tempo pode ser uma ótima estratégia para alcançar resultados ruins e diminuir a produtividade.

 

Busyness, cultura do excesso e a segurança psicológica

 

A expressão “multitasking” nasceu para descrever a capacidade de computadores de realizar diversas tarefas ao mesmo tempo. Porém, já faz algum tempo que começamos a utilizá-la para representar a tentativa humana de atender às expectativas de produtividade constante. Inclusive, a capacidade de realizar mais de uma tarefa simultaneamente passou a ser listada em vagas de emprego como um talento desejável!


No entanto, muitas pesquisas derrubam o mito de que essa é uma habilidade especial…

 

Estima-se que o multitasking, na verdade, reduz em até 40% a produtividade. Afinal, não somos máquinas: em vez de fazer várias tarefas ao mesmo tempo, o que acontece é que mudamos rapidamente de uma atividade para outra, interrompendo-nos de forma improdutiva e perdendo tempo no processo.

 

O mito do multitasking está diretamente relacionado à ilusão por trás da cultura do excesso e de busyness: se trabalharmos mais, alcançaremos mais. 


Na prática, porém, essa obsessão pela ocupação incessante resulta em menos: menos tempo, menos produtividade, menor eficiência e, em especial, declínio da saúde mental.

 

Em uma cultura de busyness, o descanso e a reflexão – fundamentais para o bem-estar dos colaboradores e para a inovação – são desvalorizados e desencorajados (no estilo “Dormir é para os fracos”).

 

Nesse tipo de ambiente tóxico, admitir cansaço ou pedir ajuda pode ser visto como fraqueza. Além disso, o excesso de ocupação impede que equipes avaliem suas práticas, identifiquem melhorias ou discutam erros de forma construtiva. Ou seja, este é o contexto ideal para problemas como retrabalhos constantes, burnout e desgaste emocional.

 

É por isso que para evitar que a cultura do excesso se propague nas empresas é fundamental desenvolver um ambiente de alta segurança psicológica.

 

Segurança psicológica é a percepção de que é seguro se expressar no ambiente de trabalho sem medo de humilhação, punição ou retaliação.

 

Quando o busyness e a cultura do excesso dominam, a segurança psicológica se enfraquece, porque os colaboradores sentem que não podem admitir vulnerabilidades, como exaustão ou dificuldade em cumprir prazos. Nesses ambientes, há menos espaço para diálogos honestos sobre erros, limites ou a necessidade de ajustes no ritmo de trabalho.

 

Sabendo da importância da segurança psicológica, em todas as nossas ações focamos em desenvolver a capacidade dos líderes de ouvir e criar ambientes em que as pessoas sintam que podem ser ouvidas, e dos colaboradores a se expressarem de maneira autêntica, segura e responsável. Nesse sentido, empatia, escuta ativa e flexibilidade são alguns dos pilares que abordamos em nossas estratégias de capacitação e mentoria.

 

Acreditamos que uma liderança humanizada, centrada nas pessoas, é capaz de equilibrar a busca por resultados com o bem-estar dos colaboradores, criando um ambiente mais saudável e produtivo. 


Defendemos um ambiente corporativo com menos busyness e mais stillness – valorizando a pausa e a reflexão como habilidades fundamentais para promover conexões humanas e cultivar relações.


A GoHuman é especialista em desenvolver ambientes de alta segurança psicológica, essenciais para combater a cultura do excesso nas organizações. Por meio de nossa metodologia, ajudamos empresas a:


  • Fortalecer a comunicação transparente e construtiva entre líderes e equipes

  • Desenvolver práticas de gestão que equilibram resultados e bem-estar

  • Implementar rituais que valorizam pausas estratégicas e reflexão

  • Criar espaços seguros para discussão de limites e necessidades

  • Capacitar lideranças para reconhecer e prevenir sinais de esgotamento nas equipes


Entre em contato com a gente e descubra como podemos ajudar sua organização a construir um ambiente mais saudável e produtivo, onde as pessoas se sintam seguras para serem autênticas e dar o melhor de si.

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